quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Ar quente

Maria,

sabe que nem sei por quê reclamo tanto do calor. Acho que é só pra reclamar, como todos têm feito, porque, de verdade, quase não o sinto. Da minha cadeira olho pela janela e vejo o céu que está mais azul do que nunca. Há vento também, porque as árvores balançam. Mas é só por isso que sei do vento, já que as janelas estão fechadas e o ar-condicionado tão gelado que me incomoda. Mas não deixo de estar contente, pelo menos tenho um ar-condicionado.

Lembra-se das férias de três meses? Eu não tinha dinheiro, mas tinha tempo, vento, calor...
Ando nostálgica.

Beijos,
Judith.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Deixando tudo

As despedidas eram como virar páginas de um livro que seria guardado novamente na prateleira e de lá não sairia por anos. Tornaria-se empoeirado, velho e amarelado - isso era o que pensava, porque uma vez lidas, aquelas palavras já estavam em suas entranhas, e retornariam. Não sei como, mas elas voltariam.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

N.O.

Qual cor combina mais com o meu cabelo e com as unhas?
E a roupa, uso essa hoje, ou amanhã, que possívelmente fará sol?
E se não fizer?
Faço a prova se não estudei suficientemente?
Nunca é.
E as cadeiras, pretas ou cinzas?
A faxina, nessa semana ou na próxima?
Ligo agora ou depois?
Digo ou calo?
Desculpa?
Sim ou não?


Estou vivo ou morto?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Deixa eu brincar

Fantasia, que é pra vida ter mais cor, vai!

Toma uma cerveja, diz pra todo mundo ficar mais, porque ali tá bom, e isso é raro, não devia terminar.
Ensina a menina a tragar, como se fosse charme.
Ri da desgraça alheia, e da sua, que é pra não chorar.
Zomba dos novos casais, que não dizem nada do que de fato são, pois se dissessem não haveria graça.

E vai embora só, porque "todo carnaval tem seu fim".

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Três letrinhas

As músicas insistem em dizer.

Na voz de Marisa Monte fica ainda melhor. E martela: " 'Sim', são três letrinhas, todas bonitinhas tão fáceis de dizer (...)".

Se antes eu achava difícil, já começo a mudar de idéia.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Go away

Maria,

e lá estávamos nós. Novamente. Nada melhor que a praia pra quem finge pensar. Mas nós não fingíamos, né? Aliás, eu falei sem parar. Esse é o meu jeito de não deixar o que falta comparecer, porque quando a falta vem, Maria, é difícil dar conta, e você sabe.

Você havia percebido como adquiri o hábito de fazer as unhas e dieta nos últimos meses? Então, roí todas. Mas não vou deixar tudo ruir assim. Até as músicas que a gente não deixa sair da cabeça não são por acaso. Os Gallegher não têm cansado de me dizer: "I don't wanna be there when you're coming down/ I don't wanna be there when you hit the ground (...)" - e nem eu.

Um beijo,

Judith.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Na contramão

Ela insistia nas perguntas. Mesmo nas perguntas para as quais escutaria as respostas mais esdrúxulas.

Oras, se não quer saber que não pergunte!

Fazia isso para se machucar e ter a desculpa de poder fugir da felicidade. Era crente, e ver a felicidade era como ver macumba na encruzilhada, dava medo. Até uma certa curiosidade, porque nunca se perimitira saber o que era direito, mas a culpa era maior.

Virava três esquinas antes.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Bordeando, enfim

Ah, mas ela já não é de carregar todo esse peso!
Não é mesmo.
Porque se resolve tomar pra si tudo o que ela mesma, e tudo que a antecedeu, impôs, está lascada.
É peso pesado.
Então vai tirando esse escafandro, Judith, porque chegou a hora de levitar.
Não deixa de pensar, mas pensa sempre que essas coisas foram feitas de dois, ou mais.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O Real

Desde o aborto ela conseguia fazer pouquíssimas coisas. Podia contar nos dedos de uma mão só: emburreceu, entristeceu, esvaziou, esvaiu-se em merda e foi parar sabe-se lá em que lugar.

Certamente num buraco vazio, sem nenhuma palavra pra bordeá-lo, cheio de "não seis" e "não quereres".

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Futebol

Maria,

tenho a impressão de que o tempo para nós já foi mais abundante. Havia mais dele para almoçarmos sem pressa, tomarmos cafés mais prolongados naquela padaria de costume... Já estamos em novembro! Enfim, caçemos com gato.

Ando com raiva daquela senhora sobre a qual tanto falamos e que até costumávamos admirar. Tenho a impressão que ela se tornou um grande livro de auto-ajuda ambulante, e eu, que sempre odiei livros de auto-ajuda, até cheguei a pensar na possibilidade de comprar um. E desisti, porque reparei como estes livros nos ordenam fazer milhões de coisas que não temos a menor condição de sustentar o tempo todo.

Amanhã é quarta, dia de futebol e chopp, topa?

Um abraço, com tapas nas costas, assim como os homens dão,

Judith.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Sonho - os próprios pés

Seus lugares permaneceram demarcados por anos na mesa. Era uma mesa embutida, e encostados na parede ficavam os filhos. O menino crescia rápido e se queixava cada vez mais do "apertamento" que sofria entre a mãe, a qual sentava do seu lado, e os azulejos.

No sonho dela era diferente. Ocupava o lugar do pai e o seu lugar vazio era preenchido com as suas idealizações - E os ideais existem? Pergunto-me. - Um casal amigo também tomava café, a bebida que move o mundo, segundo seu irmão.

De repente eles já estavam no aeroporto. Zeca Baleiro diria que "há mais solidão no aeroporto que num quarto de hotel barato (...)".

Ela se ausentou, e ao olhar para os próprios pés não eram os dela. Dois sapatos, não eram pares, não eram seus. Os pés não eram seus. Onde estão os pés da menina?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Sintonia Fina

Maria,

você contou outro dia sobre gostar de escrever cartas. Eu, definitivamente, não consigo escrevê-las. Só e-mails. Escutei Nelson Motta dizer da liberdade que sentia diante de seu computador, olhando pela janela de seu apartamento no Rio, de camisa furada, podendo escrever do que bem lhe aprouvesse. Acho que é isso o que sinto. O papel e a caneta me intimidam, têm cara de gente que "permanece". Adaptei-me ao computador.

Sobre aquele convite pra Paris no ano que vem, aposto que percebeu na minha cara que não empolguei muito. São as tais dificuldades com os planos. Paris me encantou mais depois do filme de Cédric Klapisch, triste - e lindo, no entanto. O que será que pensariam se eu dissesse que Ibiza me atrai mais? Ou talvez eu diga isso por medo. Medo de Paris.

Não encaminhe este e-mail, sim?

Um abraço apertado,

Judith.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Fluidez

Maria,

acho que João deixou o e-mail logado em algum computador público, não pude não ler. Sabe que acredito nessa coisa de que nada acontece à toa, né? Mas não é de destino que falo, é da intencionalidade - mesmo que desapercebida.

Lembrei-me das minhas dificuldades com os planos. Esses que são "sólidos", e que todo mundo que consegue "permanecer" tem, sabe? Então, Maria, descobri que eles nem precisam ser tão concretos assim para serem planos.

Se você quiser, podemos ir a Caraíva no Carnaval. Não que eu não possa ir sozinha, porque descobri também que os planos que dependem do outro pra serem concretizados são a minoria, mas é que você me pareceu boa companhia.

Um abraço,

Judith.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Dorme logo, Judith

Judith não se cansa de pesar a vida!

Por que não pensar que os despertares são apenas a fome, ou os exercícios praticados tarde da noite - contra-indicados por qualquer especialista - ou a preocupação com o horário de verão, que ontem mesmo já sacaneou com mais de um colega seu?

E lá vem Judith imaginando que "nunca mais...", "sempre será...", "o pior comigo...", exageradamente superlativa. Ensopada dos pés ao último fio de cabelo, seu coração palpita, já correu 34 Km.

Poupe-se, Judith. Poupe-me, Judith.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Norteando

Tudo não era nada além de um DVD do Justin Timberlake, pizzas, Heinekens e conversinhas. Até Regência se tornou um Paraíso Tropical. Quem diria, eu amando o litoral norte - do Espírito Santo! E amei mesmo, sem ironias.

Numa conversa de amigas buscávamos elogios, eu era "adaptável". Até agora me pergunto do que se trata.

Talvez eu seja mesmo consideravelmente "adaptável" por, um dia, ter amado Regência.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Perdas e danos

"A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto (...)"

Ah, Chico, sabes bem do que digo quando, muitas vezes, deixo de saber, por alguns minutos, quem sou nos momentos em que as coisas se perdem pelo caminho! Retomemos, ao som de um bom disco de Noel, e sem Rita. Obrigada.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

É

Era um tal de dizer "como se", como se fosse pra se defender ou amenizar.
Ri, como se estivesse nervosa. Grita, como se estivesse longe. Desculpa-se, como se estivesse errada. Sempre "como se", nunca estando.

- Isso me dói como se arrancasse um pedaço do peito!

"Como se", que nada! Arranca mesmo, e não podia ser diferente.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Segunda-feira

Estávamos juntas, caminhávamos pelas ruas, hoje sujas, não sei se pelo que o vendaval arrastou ou por conta dos "santinhos" das eleições. O vento soprava forte, em círculos, emaranhava nossos cabelos, desarrumava a roupa, levantava poeira. Mas era mais do que isso, era triste. Ela justificou a estranheza do dia dizendo que eram os "ventos de íons negativos", os quais ,em alguns países, até justificavam um maior índice de criminalidade. Achei graça, mas quase não duvidei. Era o vento, era domingo. Não sei se deixo ele me levar, acho que não devo, senão é aprisionamento na certa.

"Posso ouvir o vento passar
Assistir a onda bater
Mas o estrago que faz
A vida é curta pra ver

Eu pensei que quando eu morrer
Vou acordar para o tempo
E para o tempo parar

Um século, um mês
Três vidas e mais
Um passo pra trás?
Por que será?"

("O Vento", Los Hermanos)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Bengala

Pobrezinha! Tão nova, mas tão velha.

Pensava que mostrar as partes do corpo era sinônimo de falta de sobriedade e que os olhos fora dos óculos conotavam falta de seriedade. Comportava-se como se só sua aparência dissesse algo sobre o que tinha a dizer.

Ledo engano, ainda bem.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Paralelos

Já me perguntei pra onde iam todas as coisas quer perdíamos, como canetas, borrachinhas de cabelo e guarda-chuvas, por exemplo. Certa vez li um texto engraçado o qual falava de um mundo paralelo em que todas essas coisas perdidas pairavam. Concordei, só pode ser.

Mas há outros tipos de coisas que perdemos, ou deixamos pra lá. E essas coisas, pra onde vão?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Emburrecimento

Sinto-me acometida pela "peste da insônia", que se alastrou lá em Macondo. E como se dizia dela, seu pior mal não é a falta de sono, mas o esquecimento para o qual evolui. É preciso falar, pra não cair em mais de cem anos de solidão.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O preço da felicidade (?)

"Compre requeijão, água sanitária, saco de lixo 100l - porque aqui somos muitos, e se junta muito lixo! -, iogurtes - para as eventuais e sempre frustradas dietas - e carne para o mês inteiro. Lembre-se, pegue o meu cartão."

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Cadei(r)as

Coloquei cadeiras feitas por meu avô no meu consultório. Não o conheci, ele morreu antes que eu nascesse. Nem posso imaginar como o chamaria. Lá na cidade onde morava, minha mãe e minha avó diziam que o chamavm Zito. Vô Zé, vô Zito, vôzito, vôzinho. Já escutei tantas nuances de sua história, e é isso que consigo carregar de sua imagem. Vendo as cadeiras, e as mesas, e as camas e toda a arte feita por suas mãos acho que me emociono. São tantos mínimos detalhes, que nunca imaginei que as mãos de um homem, como este que imagino, poderiam talhar tal arte. Há algo nessas cadeiras que ele precisava dizer.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A douta ignorância

É sempre esse papo de que eu sei, mas não sei que sei. Se eu soubesse não estaria aí, vagando por entre essas interrogações. Invento de pensar em pai, mãe, avó, identificações, separações, idéia, afeto, tento buscar onde tudo começou, afinal, isso deve ter algum valor. Daqui a pouco apelo pra vida intra-uterina e cartomante, já me indicaram uma boa, lá no Rio de Janeiro.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A branca

Penso em algum nome francês para nomeá-la, gosto dos nomes franceses, são chiques, não sei por quê acho isso, mas acho. Nem nunca estive na França, e não tenho planos de viajar pra lá no momento. No momento não tenho planos. Não interessa.

Thereze Marie!

Thereze Marie de vez em quando pintava, e quando começava um de seus quadros virava a madrugada ousando novas pinceladas, arrematando detalhes imperceptíveis que faziam sempre muita diferença. Ficava com dor nas costas, porque não conseguia parar de se dedicar à paixão que, às vezes, durava uma noite inteira e depois ficava esquecida semanas, voltando a ser amada loucamente. Presenteou-me com um de seus quadros, eram máscaras do carnaval de Veneza, de olhos vazados. Os olhos estavam espalhados por todo o quadro, dispostos como numa ciranda, girando em torno de uma flor, espreitavam as máscaras choronas, que não tinham olhos para ver, como se zombassem delas. Thereze pintou uma máscara branca, é a única alva dentre tantas escuras e choronas, que aponta o olhar para o alto, mas ela não pode ver, porque os olhos estão caídos.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Secura

Vou escrever. Tudo já foi dito mas eu torno a dizer quantas vezes achar necessário, Seu Fulano, que eu quero escrever pra não carregar um mundo nas costas. Sequei como peito de mulher que já não vai mais dar leite. Sequei muito mais que o ar de Brasília, muito mais que isso! E foi de repente que senti que não posso dar nada, por mais que queira. Não tente me arrancar nada, não hoje. Amanhã, talvez.

Sobre quem não pode ficar bem

Era toda de dar opiniões, e as suas eram sempre as certas. Gostava de finalizar as frases e dar diagnósticos, convencendo-se sempre de que seus pareceres eram inequívocos. Certamente algo melhor estava por vir.

Já não consegue dizer quase nada, coitada. Pensa em duas hipóteses: ou regrediu, ou não diz pois consegue agir mais e melhor. Melhorou, graças a Deus, aos santos e aos poetas.

Infelizmente, quando tem a boa impressão de ter acertado, pensa estar inventando, só pra se esquivar da própria opinião. Quando finalmente decide, já imagina um sintoma por vir, e ele não vem.

Ela agradece ou espera um pouco mais?

domingo, 29 de agosto de 2010

"Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar..."

Ela veio me visitar novamente. Sempre penso em milhares de razões para que ela chegue e se instale dessa forma tão invasiva, como sempre faz. Tento justificar das maneiras que menos me incluam na história de suas razões, porque seria mais fácil, mas o que é mais fácil nem sempre é o que é. Pra todas as justificativas que tenho posso responder que tudo já aconteceu outras vezes e nem por isso ela esteve aqui.

Vá embora, vá, que eu não tô me quardando pra quando o carnaval chegar!

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Escrevo, se rebele (ops, era Escravo)

"Se escreveu, remeta
Engrossou, se meta
E quer dever, prometa
Prá moldar, derreta
Não se submeta (...)"

Quem já escutou Lenine cantar "Do it", imperativo que só ele, pensa que querer é poder.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Palavra-adaga

Quero lançar a minha palavra-adaga, eu quero atingir grandes artérias e fazer da minha palavra-adaga uma arma mortal. Com a têmpera mais forte que a de uma espada e seu gume serrado, eu quero duelar com meu adversário em mim mesma, e vencer! Isso tudo com a minha palavra-adaga.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Cheiro de pinho-sol

Sinto-me como numa floresta de eucaliptos na busca da resposta de qual seria o gozo então. Qual seria?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Universal

Judith lembrou-se que na infância também perdia o sono quando tinha pesadelos. Na pontinha dos pés abria a porta do quarto dos pais e chamava o pai chorando baixinho. Ele rapidamente levantava e a colocava de volta na cama. Fazia o que costumavam chamar "nuvenzinha", que era quando ele jogava a coberta para o alto e ela caia devagar e esticada por cima do corpo, cobrindo-a por inteiro. Dizia que estava lá e que ela não se preocupasse, pois nada de mal aconteceria, era sonho, e era de mentira. Mal sabia ele que os sonhos nada têm de mentira, mas enfim, ela acreditava.

Já adulta, Judith contou pro pai-herói que havia acordado, e os pesadelos ainda a acometiam. Ele foi muito amável, abraçou-a, mas sua fala não foi como a dos velhos tempos. Ele disse que também perdia noites de sono, tinha sonhos ruins e que todos estavam fadados a isso, mas que não se preocupasse, pois ele era mais experiente, e sabia que aquele era só mais um dia, o sol sempre nasceria e tudo acabaria bem.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Amanhã há de ser outro

São 3:30 e Judith abre os olhos como se o despertador tocasse sem parar. O coração palpita como se corresse uma maratona. Lembra-se do que a disseram um dia, pra se concentrar nos sonhos mais bonitos, e isso faz com que o seu coração fique ainda mais acelerado, não os encontra. Tem vontade, agora sim, de correr ou falar as mentiras mais absurdas que tem inventado, mas logo o sol nasce e este será só mais um dia.

sábado, 7 de agosto de 2010

Existe só

Ela diz que sem ele não existe, mas existe sim, eu sei. E nesse medo de não existir delegou a todos os outros as coisas mais bonitas que não poderia ter deixado de fazer só, mesmo que acompanhada. Vai, que sempre é tempo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Tróia de cada dia

E hoje escutei alguém falar do modo como Penélope esperaria por Ulisses nos dias de hoje. Com um sapo, um comprimido de Sertralina e um copo d´água, engoliria de uma vez. Deplorável, sem romantismo algum, mas até engraçado.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Equivocando

E correr pode não ser "de", mas "para". (?)

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Atriz

Escolhi me especializar em Transtornos Alimentares e Obesidade, e à toa não foi. Não posso negar que havia lá, na época de minha decisão, uma questão pragmática envolvida, mas, enfim, eu poderia ter escolhido outra coisa.

Na minha adolescência era de comer escondida. Não sei por qual razão, mas achava que nas leis tácitas da minha casa comer demais era o pecado maior, e eu amava comer demais!

O relógio marcava 18:30, eu finalizava o preparo do meu delicioso brigadeiro. Levei-o para o quarto, e, ao som de um reggae, daria a primeira colherada quando escutei o molho de chaves e o assovio característico do meu pai.

-Putz!

Guardei a panela inteira no guarda-roupas, sentei e fingi ler um livro.

-Que cheiro de chocolate no seu quarto!
-Não tô sentindo não.

terça-feira, 27 de julho de 2010

"Pára-raios em dia de sol"

Era sexta, e eu já começava a comemorar meu "um quarto de século". Ele chegou anunciando sua presença com um cheiro que se antecipava, um misto de maconha e dias sem banho. Contou-nos que esteva muitos dias em alto-mar e que seu barco agora estava atracado no Iate Clube, até nos chamou pra dar uma volta. Pediu uma cerveja, tinha sede, foram muitos dias navegando. Comprei uma long neck temendo que ele quisesse sentar à mesa conosco, mas isso não ipediu que ele ajoelhasse do nosso lado , e, em agradecimento me fizesse uma pulseira. Conversou um bom tempo, como se sentasse à mesa. Mostrou a carteira de identidade novinha. Caxias do Sul, 1964, esqueci seu nome. Cantou pedaços de "Parabólica" do Humberto Gessinger, disse que eu parecia alguma atriz antiga que já me esqueci também e confessou que o pior da vida andarilho era ver tanta gente mas não poder, de fato, conversar. Agradeceu a cerveja e disse que tinha que voltar pro seu barco.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

"Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!"

Mário Quintana

sexta-feira, 23 de julho de 2010

"Honey please don't cry / listen to me (...)"

Conversávamos na padaria e vimos do vidro o escândalo de uma criançinha que mal caiu e já berrava. A mãe fingiu que limpava a calça da neném, deu uns beijinhos e poucos segundos depois a pequena já dava um risinho molhado de corisa. Lembrei-me de uma cicatriz que tenho no joelho esquerdo, um presentinho eterno de uma queda que tive na volta da escola. Não lembro minha idade, e justamente por não lembrar, acho que era bem pequena. Minha mãe andava do meu lado, me levantou sem notar o sangue. Não a culpo, eu nem piei.

Hoje antes de chorar eu interrompo a conversa dizendo que estou com fome, que tenho sono ou que minha vontade de falar acabou, mas é só pra que o choro não venha. O choro não evita a cicatriz, mas pelo menos chama o olhar.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Dreaming of screaming

Íamos nós três. Parecia um restaurante em um terraço de um prédio de São Paulo. Eu nunca estive em um, mas não consigo pensar num outro lugar. Um restaurante italiano, certamente, e as toalhas das mesas quadriculadas em branco e vermelho.

Eu queria espaguete, mas só tinha talharim, então a mais velha me dizia: "Come talharim mesmo, é bom!" e eu aceitei. E eu queria só "ao sugo", mas ela insistiu que eu comesse alguma carne: "Tem que ter alguma carne, oras!", e eu tentava indecisamente optar por alguma coisa que eu não queria, eu não queria carne, mas, por fim, para não desagradá-la, escolhi frango, e ela disse: "Não, escolhe a carne e boi, pode escolher, ela NÃO É de primeira!", e eu me perguntei "Mas eu não deveria escolher justamente porque É de primeira? Devo escolher porque é de segunda, terçeira ou quarta?". Para não me desagradar completamente, mas para não desagradá-la também, eu quis à bolonhesa, tem carne, é de boi, mas não era a de segunda. A senhora tanto insistiu que eu ficasse com a outra que, no final das contas, cedi.

A outra, a mais novinha, só observou. Tenho certeza que ela não abriria mão do molho de tomate, saberia se posicionar muito melhor que eu.

terça-feira, 20 de julho de 2010

"Eu só quero chocolate, chocolate"

Fiquei na dúvida se ao buscar as conversas, e consequentemente as identificações, fiquei mais esperançosa ou não.

Mas afinal, o que se espera quando se busca uma conversa? Tento não ter a inocência de achar que seja uma resposta, por mais que lá no fundo seja exatamente isso, uma resposta, o que mais queira. Ou álibis, não sei também.

- Um café e um pedaço de bolo de chocolate bem grande, por favor, moço. E uma foto da gente depois, só pra registrar esse momento!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Caminhando, e cantando, e não ouvindo a canção...

Acho tudo isso, de ver e escutar as coisas numa clareza imensa, tão ridículo.

E aí me dizem o tempo inteiro da alegria de escolher, da potência de poder optar por este ou aquele caminho. Uma amiga me falou algo de que eu não consigo esquecer "Quando a gente furou o ouvido já era...".

Já era mesmo! Já era a confortável ignorância do não querer saber e do ir vivendo gerundiamente pela vida afora...

Ah, que saudade da vida gerundiante!

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sonhos

Poupá-lo, sempre.

Pois quem não conseguia enxergar que, de todos, ele era a figura mais frágil? Quando se via contrariado, em rompantes de ira gritava. Mas era pra se defender, porque durante a noite, seus sonhos eram de abandono. Ai se ele soubesse que nós jamais o abandonaríamos...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Voa

Ela aí, se queixando de sua velhice, dizendo que prefere a morte do que se ver ruindo com o passar dos dias, dos meses, dos anos.

Eu aqui, querendo tanto ser ela quanto ela querendo ser eu, querendo que os dias, os meses, os anos, passem rápido, voando.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Hoje é dia de

Encontrei uma agenda antiga. Hoje em dia eu não compraria mais uma agenda capa furta-cor (tendendo para o verde) com estrelinhas. Há alguns anos são pretas, grafite ou beringela - embora eu adore amarelo, lilás, verde fluorescente. As roupas também seguem a mesma tendência.

Na agenda antiga quase nenhum compromisso, notei que em janeiro, fevereiro e março não havia nenhum compromisso, pensei que tanto "nada pra fazer" devia se tratar das férias, que talvez nunca mais tenham três meses. Aliás, melhor bater na boca.

Vez ou outra um aviso de entregar trabalho, datas de aniversário, feriados, telefones de pousadas, dias de festas, títutlos de textos pra pesquisar, congressos. Curioso é que eu anotava muitos sonhos, de repente porque quisesse viver deles eu enchia as páginas da agenda com muitos e muitos.

"O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre."
(Adélia Prado)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Culpa animal

Dênis foi meu cãozinho durante uns cinco anos, e por causa dele acho que não vou pro céu. Adolescente, cabeça nas nuvens, às vezes deixava Dênis sem comida, e ele, por vingança, passou a fazer cocô na cozinha e xixi no sofá da sala, deixando rodelas úmidas de aroma "agradável" nas calças dos que lá sentavam. Eu o compreendo, ele tinha toda razão por ter raiva. Dizem que quando ele foi embora lá de casa engordou 2,5 Kg, teve muitos filhotes e foi feliz para sempre. Fiquei mal.

Mais saudades

Eu pegava o 121, 122, 123 ou 124 e todos eles me levavam até lá. Atravessava a antiga passarela, que, quando era noite, dava medo. Então chegava à passarela lá de dentro e seguia o caminho coberto pra fugir do sol, tínhamos aula em janeiro. Comprei uma "sandália franciscana" e uma calça pantalona, quando cheguei em casa, com a barra toda marrom de barro, meu pai disse que eu não precisava me fantasiar pra ir pra lá, concordei. Ah...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Do que será

Peguei-me pensando na saudade que tenho da vida como ela podia ter sido. Mas isso existe? Saudade do que podia ter sido...

Saudade do que foi. Ônibus, semente, sanfona, zabumba, dança, areia, gengibre, rodar, rodar, rodar, rodar. O céu cheio de estrelas e eu nem sei se ele ainda as abriga. Me falta olhar pro alto, é isso.

"Woke up this morning singing an old, old Beatles song..."

terça-feira, 8 de junho de 2010

Antigripal

Minha mãe dizia que havia algo de bom em ficar doente, e eram os gibis que meu avô levava.

Dizem que estamos no mês da gripe e eu fui beneficiada com uma "daquelas", cinco espirros seguidos. Quem me desafia?

Há muito tempo não chegava em casa antes das 19:00, comia bolo de chocolate com calda e via na TV coisas que um "anencéfalo" entenderia. Eis meu presente.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Adia

"Adia tudo. Nunca se deve fazer hoje o que se pode deixar de fazer também amanhã. Nem mesmo é necessário que se faça qualquer coisa amanhã ou hoje."

Sou eu ou é Bernardo Soares o heterônimo?

domingo, 30 de maio de 2010

O bom de ceder

Toda vez ele tentava conversar eu dizia que era mesmo daquele jeito e ele teria que aceitar e me aceitar assim mesmo. Chamava e eu dizia que não, que pra mim o melhor era ficar parada e não me mover nem um milímetro. Mas eu sabia que os planos dele - às vezes, porque não consigo ceder tanto assim - eram muito melhores do que os meus e que se eu não topava não era por não querer, mas por medo. E a gente brigava, porque ele nomeava o medo de egoísmo, mas eu também não dizia que não era. Parei com isso de não dizer e disse que era medo de gostar e de ser feliz.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Condição de todos nós

E quando alguém já disse o que você queria dizer?

"A solidão é meu cigarro
Não sei de nada e não sou de ninguém
Eu entro no meu carro e corro
Corro demais só pra te ver meu bem
Um vinho, um travo amargo e morro
Eu sigo só porque é o que me convém
Minha canção é meu socorro
Se o mar virar sertão, o que é que tem?
Dias vão, dias vem, uns em vão, outros nem...
Quem saberá a cura do meu coração senão eu?
Não creio em santos e poetas
Perguntei tanto e ninguém nunca respondeu
Melhor é dar razão a quem perdoa
Melhor é dar perdão a quem perdeu (...)"

Na voz de Zeca Baleiro, então, fica ainda mais parecido.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Concluideira

Ela começou aula de vôlei, basquete, judô e sapateado. Um dia, em que sua mãe estava no trabalho, até fugiu de casa, sozinha, para ir à aula de balé, porque, de tanto que gostava, não podia faltar. Logo logo parou. O bom, segundo os que a viam, era começar. Começou aula de jazz, jiu-jitsu, boxe, ginástica. Começou dieta, corrida, namoro, livro, aula de instrumento musical.

Apelidaram-na de "começadeira", mas ela não gostou, pois se hoje já não faz mais nada disso é porque houve um final.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A palavra

Pra aplacar a angústia, uma cerveja ou um doce ao invés da palavra.

Houve um tempo em que, pra me preservar dos exageros, ou da felicidade que é escolher, o meu corpo me presenteou com uma tonteira permanente. Agora eu escolho a palavra, a melhor de todas as comidas, bebidas e remédios. Agora eu escolho.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Sonhos navais

Eu já a conhecia há tantos anos - desde os meus dois -, mas não conhecia quase nada dela. Sempre uma relação tão íntima e distante ao mesmo tempo... Todos os dias ela entrava no meu quarto e eu do dela nem sei a cor.

Um dia ela me contou que não gostava de cozinhar, mas adorava arrumar , e tinha dois sonhos: ou "enfrentar" a marinha ou ser caminhoneira, mas que nem por isso deixava de gostar do que fazia.

Imaginei-a franzina daquele jeito na marinha ou dirigindo um caminhão e pensei que do outro a gente até supõe, mas sempre se surpreende.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Santa tristeza!

Dona Maricotinha era boa demais da conta ou sofria de algum mal sério mesmo. "Nunca tive uma tristeza nessa vida, e, se tive, não lembro!". Pelo que me confidenciaram ela espalhava por aí que seria canonizada pela Igreja Católica Apostólica Romana e fazia até competição de reza com as irmãs da paróquia.

Eu sempre desconfio de tanto júbilo e tanta santidade. Longe de mim duvidar de Deus e da alegria, mas é que a tristeza é do homem, a tristeza tem que poder ser vivida.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Just sing sing sing

Certa vez comentei que gostava de cantar, e isso não é de hoje. Ando cheia de decisões e fiquei pensando nos sonhos e habilidades que achava não ter, mas até que agora me dou o direito.

Quando era criança tinha todos os meus aniversários filmados. Engraçado (ou triste) é que só deixei de fazer festa depois de grandinha.Em uma dessas, acho que na de dois anos, lá estava: cabelos bem curtinhos e provavelmente bem suados e grudados na testa, um microfone de madeira verde e amarelo, que mais parecia um pirulito, em uma das mãos - lembro-me claramente dele, incrível! -, pezinho em ponta, com perninha esticada pra frente e olhos fechados. Ridiculinha e fofinha.

Alguém do fundo gritava "Canta romântico!", e eu maravilhosamente dublava a música. Sempre soube que levava jeito.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Multiforme

Hoje vejo o céu azul e sinto o vento frio dos tempos em que Zeca Baleiro tocava no meu rádio (ainda se diz rádio?). Acho que antes. O céu azul e o vento frio dos tempos em que passava as tardes de sexta-feira andando pela Praia do Canto de short de uniforme, até quase o fim da tarde, antes das festas de 15 anos. Era quase sempre igual, era quase sempre tão bom!
Era exatamente disso que eu falava quando perguntavam do que eu mais gostava, nos livros de pergunta, e eu respondia "Vento no final de uma tarde de sol!".
Hoje é sexta-feira, não há mais short de uniforme, mas acho que pode ser bom também...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

"Desinquieta"

- Me faça feliz, pelo amor de Deus, me faça feliz...

Era assim que ela dizia entre berros, soluços, choro. Segurava o vestido e torcia a gola. De joelhos implorava com a maquiagem absolutamente borrada. Eu tinha pena, porque escutava e não sabia se podia fazer alguma coisa útil. Felicidade não é coisa que se possa dar pra ninguém por mais que se queira, felicidade não é presente. Era eu e o espelho do banheiro. Felicidade não é presente, é inquietude.

Labirinto

Numa tentativa de me aliviar ela disse: "Quando perder o sono durante a noite tente pensar em algum sonho, alguma coisa bem boa ou num prazer bem fútil, fácil de ser satisfeito!". Inicialmente achei uma boa idéia, meio bobinha, mas uma boa idéia porque me remetia a um tempo em que eu sonhava com coisas como a roupa que usaria no fim de semana, as músicas da próxima festa, a próxima viagem, um corte de cabelo e essas coisas me satisfaziam de verdade, eu juro. Achei que seria fácil. Agora, os sonhos dos quais me lembro parecem pesadelos.

sexta-feira, 26 de março de 2010

"Simsalabim!"

Joãozinho (sempre o Joãozinho!) acreditava em mágica. Saía de casa deixando um rastro de cuecas enroladas, meias com chulé, toalhas molhadas, camisas suadas de futebol de antes de ontem e outros. Assim que chegava em casa tudo havia sumido, e ele, muito animado, contava para os amigos, entre risadas, sobre o desaparecimento diário da "zorra". O que Joãozinho não sabia era o trabalho que dava enfiar o coelho na cartola.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Dois comprimidos depois do almoço

O perigo é quando a gente pensa que já chega de escrever. Escrever, como me disseram, é um exercício. Exercício, como também me disseram, deve ser praticado com regularidade. Eu, que venho de casa de médicos (espero que não hipocondríacos) também penso que escrever é como remédio de uso contínuo, pra doença crônica. Fui, assim como os espertos que se acham curados, parar de escrever, e logo a ferida abriu. Acordei (literalmente) na hora errada. Escrever é ansiolítico, é analgésico, é indutor do sono é anti-hipertensivo, descongestionante, afina o sangue, antibiótico, melhora inflamação e espinhela caída.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Ilhado

Numa terça-feira dessas, às 9:39 da manhã, eu ainda estava presa no trânsito, por causa de uma dessas chuvas que alagam alguns pontos da cidade e mudam a rotina de muita gente. Olhei pela janela e vi um senhor sentado num boteco "copo sujo" ali perto de onde trabalho e, às 9:39, ele tomava uma cerveja, aí me perguntei: "Será que tomar uma cerveja sozinho, às 9:39 da manhã de uma terça-feira é realmente uma boa opção?". Obviamente, o senhor poderia mesmo estar curtindo um dia anômalo, em que havia ficado ilhado, em função do alagamento, e pensou em fugir da rotina tomando um cerveja de manhã. Pensei porque há tantas escolhas travestidas de "falta de escolha" que nem sei, falo de mim.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Bate na boca!

"Quem muito abaixa o ** lhe aparece.". Era exatamente assim, com estes termos, que dizia Tia Paulina, segundo minha mãe. Um absurdo pensando na idade em que tinha aquela senhorinha de cabelos branco-amarelados (ou amarelo-esbranquiçados?). A tia avisou, agora cada um que cuide de apertar bem as calças caso decida se curvar.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Levanta e anda

Depois de acabar com toda aquela pataquada ela enxugou os olhos e pensou: Deixa de ser besta, mulher! Nessa vida não existe lugar pra quem pede de graça. Pra ter tudo o quiser deverá pagar um preço, e alto ele será. Parece final de algum dos contos dos irmãos Grimm, mas não. Foi real, aconteceu com uma amiga minha.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Ai!

Achava "fofinho" e quase irritante o jeito que Solange buscava se identificar com as pessoas: "Você sente essa dorzinha tipo de enfarto, do lado esquerdo, que nem eu?". Tudo sobre o que ela falava tinha a ver com doença e dor, alguns zombavam. Eu, apesar da quase irritação, acreditava em tudo, porque há dores que são grandes e que estão inscritas em um corpo que é simbólico. Se Solange diz que dói, dói.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mais de um.

Neila amava Cézar que amava Valcir que amava Marta que só amava a si mesma e só falava de si mesma e não tinha tempo para escutar mais nada além do som de sua própria voz. Os anos se passaram e hoje tenho dúvidas se Marta se amava mesmo, se fazia isso porque tinha ódio de si ou se não sabia fazer outra coisa.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Pior da escala.

Se me pedissem pra responder rápido eu diria que sofre mais quem sofre dos pensamentos. Cada um com sua dor, eu sei, mas o que sofre do pensamento, coitado, nem consegue dizer do que é que sofre.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

"Sim."

Pensei ainda mais no que disse sobre a história de deixar de fazer coisas com o tempo por medo de julgamento. Não sei se é assim com todo mundo, mas escrever por exemplo, que deveria ser bom só por ser, às vezes se torna constrangedor. Logo que escritas as palavras parecem lindas e representam justamente o que gostaríamos de dizer, mas se relidas já parecem ridículas e sempre ficariam muito melhores se substituídas. Isso deve ser aquela coisa de nunca se permitir, porque se toda palavra insatisfaz o texto nunca sai, e assim é: se eu nunca abro a boca nunca canto, se eu nunca tiro a grana do bolso nunca compro, se não digo "Não." nunca nego e assim sucessivamente.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

É literal.

Cria-se coisas pra tudo, inclusive eu criei este blog pra conseguir dormir. Obviamente não só por este motivo, aliás, criar blog é um desejo frustrado que só me permiti colocar em prática hoje porque me vi velha demais pra ter vergonha de realizar um desejo. É engraçado como a gente vai deixando de fazer coisas com o tempo simplesmente por medo de julgamento: andar de bicicleta, por exemplo, desaprendi. Realizar desejos é bom, logo logo compro uma bicicleta.