quinta-feira, 21 de julho de 2011

Boticão

Começo com mão no rosto e pouco riso.
Tento disfarçar as falhas com malabarismos invisíveis, mas elas me escapam.
Outro dia Lúcia me contava de quando era menina. Nem perguntaram seu nome e já foram assim, arrancando seus dentes, e dando beliscão no braço em seguida, pra esquecer da dor na boca.
Hoje tem de mentira.
É dos de mentira que me valho, como Lúcia. E é com os de mentira que a gente se vira, do jeito que dá, na vida, fazendo malabarismos no escuro.
Termino pintando de coral a boca sem dentes e gargalho com todos à mostra.
Os de verdade e os de mentira.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Midnight, aqui mesmo

Eram os mesmos sofrimentos há tanto, às vezes travestidos, mas os mesmos...
Uma dor de existir, uma depressão sem remédio, sem desejo.
Botava a culpa na escolha de fazer a vontade de Deus, citando palavras de um amigo: "Para toda escolha há uma dor. Para a escolha certa a dor vem de resistir ao prazer agora para um grande ganho mais tarde. Para a escolha errada há o prazer agora e uma longa dor depois."
Não percebia que não se tratava de Deus, mas de seu eterno adiamento da realização de suas paixões. Da desistência dos sonhos, ou de qualquer pequeno plano, pra nunca ser aquela que pode até fracassar, mas porque foi.