terça-feira, 9 de outubro de 2012

In memorian

Ainda sonolenta, fito, de dentro do carro, o rapaz e suas duas crianças sendo molhados pela água da poça que o motorista não viu.
Prefiro pensar que foi acidental.
Tenho vontade de chorar, mas não vou, demorei-me demais na confecção da minha maquiagem.
Consegui um traço perfeito com o delineador.
Todas as manhãs eu pinto a cara que é pra colorir um pouco a crueza da vida.
É difícil enfrentar o mundo de cara limpa.

Soube que o moço piadista, que queria viver, morreu dormindo, virado pro canto, e coberto.
Coberto de razões pra não ter partido - os corações.
Penso em chorar, e desta vez eu vou.
Diferente do que fiz quando vi as roupas das crianças enlamaçadas, a moça perder o filho, o senhor perder a memória, e por consequência a vida, já que tenho minhas dúvidas de que ela seja mais do que isso.

Memórias.

Também se morre delas, pois numa tentativa incessante de querer ser o que poderia ter sido, jamais se vive.
Ou, vive-se como se tivesse morrido.

O amigo do moço disse, a respeito dele, que enfrentar era uma espécie de "hobby".
Me ensina, moço, me ensina.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Valsa(lva)

Com um coração de quem ainda não nasceu, tropeço na - permitam-me o esdrúxulo jogo de palavras - Valsa(lva) da vida. Procurem no google.
Todas as noites sentindo que o que ele quer é sair pela boca, preciso transformá-lo em palavra.
Gostaria de ver gente feia, tomar uma cerveja na lata suja, sentir um pouco do cheiro do cigarro que nunca vou fumar.
Merci!
Aprender meia dúzia de palavras em francês, pra entender Lacan no youtube, e outra meia dúzia em alemão também, pra não depender da tradução do Joaquim nas leituras.
O Joaquim sabe a hitória de todas as tribos primitivas do mundo, toca instrumento de música Indiana, é mestre e mergulha.
Aonde se compra esse coração, Joaquim?