Juliana me ensinou que uma moça jamais deveria sair de casa sem batom. No meu aniversário de 12 anos descíamos de elevador para chegar ao playground. Lembro-me de, na ocasião, usar muitos anéis, mecha loira no cabelo, roupas pretas e aparelho ortodôntico. Ali, no elevador, Juliana perguntou se eu não passaria nem um batom. "Não", respondi, mas achei que devesse passar.
O que eu não teria conseguido nessa vida com um pouco de batom...
sexta-feira, 19 de julho de 2013
sábado, 8 de junho de 2013
Carta para Deus
Deus,
Hoje
acordei convicta, feliz e um pouco nervosa. Senti-me um pouco na obrigação de
falar algo bonito e surpreendente hoje à noite, mas estou agora me
desobrigando. Ao invés de dizer algo que precise ser bonito, prefiro só dizer
de mim para você.
Fiquei
a me perguntar: por que nervosa, se feliz e convicta? E acho que tenho algumas
suposições. O Senhor sabe como minha vida, nos últimos seis meses, tem sido
diferente. É difícil crescer, mas sinto que cresci dez anos em cada mês destes
seis. Uma das tarefas, ao mesmo tempo, mais necessárias, importantes e difíceis do
homem, é “sair de casa”. Esta minha casa é muito convidativa, apesar de nos
dias mais aborrecidos eu bater o pé pelos corredores dizendo que nunca queria
ter lá nascido – falo só da boca pra fora. Você viu como fui bem cuidada e
protegida. Nas noites de pesadelo escutava sempre: “Eu estou aqui, nada vai
acontecer!” e nos dias de achar que nada
daria certo: “Não se preocupe, eu cuido disso!”
É
preciso voar. Uma amiga que encontrou meu pai no supermercado esses dias riu ao
me contar que ele disse que eu precisava “sair pra vida”, é mesmo preciso sair.
É preciso sair com alegria.
Crescer
implica em escolher e também arcar com as escolhas. Antes de conhecer o que era
o amor, eu nem sabia que podia escolher.
Achava que a gente devia receber qualquer coisa, e com essa coisa
qualquer se conformar.
Não
há ninguém que vá me dizer: é agora, é ele! Talvez por isso o nervosismo. Mas
há razões consistentes – para mim - que me fazem afirmar que ao lado dele,
Marcos, é onde eu quero estar: sua
sensibilidade – ele, chora, e isso me encanta!, sua disponibilidade de falar
olho no olho, a falta vergonha de, quando necessário, se mostrar fraco e
dividido, ao mesmo tempo a sua força e sua capacidade de insistir no seu desejo
– algo que espero aprender com ele todos os dias. As razões, no entanto, não estão só nele, há algo em mim. Há em mim, por
estar ao lado dele, uma vontade enorme de me tornar alguém melhor! Minha mãe me
ensinou que eu nunca deveria me conformar com nada menos que isso.
Hoje
é um dia especial, pois é dia de marcar a intenção de sermos, eu e Marcos,
dois, pois o Senhor diz que é bom sermos dois, e ao mesmo tempo um. Um em dois que buscam mais intimidade contigo,
que procuram ser o melhor que puderem, que se empenham em tratar de suas
lacunas e repetições a fim de serem felizes e parceiros, na alegria e na
adversidade.
Obrigada
por este dia, obrigada pelos outros que estão por vir.
Natália.
domingo, 24 de março de 2013
Carta de amor
Meu amor,
Quero contar-lhe minha história, pois a nossa é tão curta, e nessa nossa voracidade de viver, não consigo dizer.
Dizer-te meu amor, que ao longo destes meus vinte e poucos anos marquei meu corpo, marquei-o nos momentos em que queria celebrar a minha liberdade, a minha liberdade de escolher. Veja só, amado, que eu não sabia nem que podia escolher e achava que a gente devia receber qualquer coisa, e com essa coisa qualquer se conformar. E tatuei, na carne da costela, que se expande cada vez que respiro, mas não me lembro disso todas as vezes que o faço. Escolher.
Marquei-o centenas de vezes, uma delas com asas de borboleta, que se transforma, que quer voar. Borboleta boa é aquela que mimetiza, esperta, se confunde pra não ser devorada.
Marco também o meu corpo dando nós no estômago, perdendo a visão, tonteando diante da vida. Apavoro-me com a felicidade, sabia? Não aprendi como ser uma mulher feliz.
Quero me inventar, minha vida! Quero inventar pra mim uma vida pra poder me emaranhar na sua sem me perder.
Com amor,
Natália.
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